A História de Allan Kardec

 

Em 3 de outubro de 1804, Lyon – Paris, nascia de uma antiga família lionesa Hippolyte Léon Denizard Rivail, um influente educadorautortradutor francês e posterior codificador da Doutrina Espírita. Segundo o livro “O Que É o Espiritismo”, Rivail era um alto e belo rapaz, de maneiras distintas, humor jovial na intimidade, bom e obsequioso. Nascido numa antiga família de orientação católica com tradição na magistratura e na advocacia, desde cedo manifestou propensão para o estudo das ciências e da filosofia.

Mais conhecido como Allan Kardec, recebeu esse pseudônimo uma vez que seu nome muito conhecido do mundo científico, em virtude dos seus trabalhos anteriores, poderia originar uma confusão ou até mesmo prejudicar o êxito do empreendimento. Ele adotou o alvitre de o assinar com o nome de Allan Kardec que, segundo lhe revelara o guia, ele tivera ao tempo dos Druidas.

Rivail Denizard fez em Lyon os seus primeiros estudos e completou em seguida a sua bagagem escolar, em Yverdun (Suíça), com o célebre professor reformador educacional Johann Heinrich Pestalozzi, de quem cedo se tornou um dos mais eminentes discípulos e um dos pioneiros na pesquisa científica sobre fenômenos paranormais (mais notoriamente a mediunidade), assuntos que antes costumavam ser considerados inadequados para uma investigação. Concluídos os seus estudos, o jovem Rivail retornou ao seu país natal.

Era membro de diversas sociedades acadêmicas, entre elas o Instituto Histórico de Paris e a Academia Real de Arras; esta última, em concurso promovido em 1831, premiou-lhe uma memória com o tema “Qual o sistema de estudos mais de harmonia com as necessidades da época?”.

Além de bacharel em Letras e em Ciências e doutor em Medicina, também conhecia a fundo e falava corretamente o alemão, o inglês, o italiano e o espanhol; conhecia também o holandês, e podia facilmente exprimir-se nesta língua. Fundou em Paris, à rua de Sèvres, no 35, um estabelecimento educacional semelhante ao de Yverdun onde mais tarde encontrou a Srta. Amélie Boudet com quem desposou em 6 de fevereiro de 1832. Já em 1824, passou a lecionar, publicando diversas obras sobre educação, e tornou-se membro da Real Academia de Ciências Naturais.

Como pedagogo, o jovem Rivail dedicou-se à luta para uma maior democratização do ensino público. Entre 1835 e 1840, manteve em sua residência, à rua de Sèvres, cursos gratuitos de Química, Física, Anatomia comparada, Astronomia e outros. Nesse período, preocupado com a didática, elaborou um manual de aritmética, que foi adotado por décadas nas escolas francesas, e um quadro mnemônico da História da França, que visou facilitar ao estudante memorizar as datas dos acontecimentos de maior expressão e as descobertas de cada reinado do país. As matérias que lecionou como pedagogo são: Química, Matemática, Astronomia, Física, Fisiologia, Retórica, Anatomia Comparada e Francês

Conforme o seu próprio depoimento publicado em Obras Póstumas, foi em 1854 que o Prof. Rivail ouviu falar pela primeira vez do fenômeno das “mesas girantes”, bastante difundido à época, através do seu amigo Fortier, um magnetizador de longa data. Sem dar muita atenção ao relato naquele momento, atribuindo-o somente ao chamado magnetismo animal do qual era estudioso, só em maio de 1855 sua curiosidade se voltou efetivamente para as mesas, quando começou a frequentar reuniões em que tais fenômenos se produziam.

Durante este período, também tomou conhecimento do fenômeno da escrita mediúnica – ou psicografia, e assim passou a se comunicar com os espíritos. Um desses espíritos, conhecido como um “espírito familiar”, passa a orientar os seus trabalhos.

Convencendo-se de que o movimento e as respostas complexas das mesas deviam-se à intervenção de espíritos, Kardec dedicou-se à estruturação de uma proposta de compreensão da realidade baseada na necessidade de integração entre os conhecimentos científicos, filosóficos e moral, com o objetivo de lançar sobre o real um olhar que não negligenciasse nem o imperativo da investigação empírica na construção do conhecimento, nem a dimensão espiritual e interior do homem.

Tendo iniciado a publicação das obras de Codificação em 18 de abril de 1857, quando veio à luz O Livro dos Espíritos, considerado como o marco de fundação do Espiritismo, após o lançamento da Revista Espírita (1 de janeiro de 1858), fundou, nesse mesmo ano, a primeira sociedade espírita regularmente constituída, com o nome de Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.

Kardec passou os anos finais da sua vida dedicado à divulgação do Espiritismo entre os diversos simpatizantes, e defendê-lo dos opositores através da Revista Espírita Ou Jornal de Estudos Psicológicos. Já com cerca de oito milhões de seguidores, faleceu em Paris, a 31 de março de 1869, aos 64 anos de idade, em decorrência da ruptura de um aneurisma, quando trabalhava numa obra sobre as relações entre o Magnetismo e o Espiritismo, ao mesmo tempo em que se preparava para uma mudança de

local de trabalho. Está sepultado no Cemitério do Père-Lachaise, uma célebre necrópole da capital francesa. Junto ao túmulo, erguido como os dólmens druídicos. Acima de sua tumba, seu lema: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei”, em francês.

Em seu sepultamento, seu amigo, o astrônomo francês Camille Flammarion proferiu o seguinte discurso, ressaltando a sua admiração por ele:

“Voltaste a esse mundo donde viemos e colhes o fruto de teus estudos terrestres. Aos nossos pés dorme o teu envoltório, extinguiu-se o teu cérebro, fecharam-se-te os olhos para não mais se abrirem, não mais ouvida será a tua palavra… Sabemos que todos havemos de mergulhar nesse mesmo último sono, de volver a essa mesma inércia, a esse mesmo pó. Mas, não é nesse envoltório que pomos a nossa glória e a nossa esperança. Tomba o corpo, a alma permanece e retorna ao Espaço. Encontrar-nos-emos num mundo melhor e no céu imenso onde usaremos das nossas mais preciosas faculdades, onde continuaremos os estudos para cujo desenvolvimento a Terra é teatro por demais acanhado. (…) Até à vista, meu caro Allan Kardec, até à vista!” 

 

  • Obras didáticas
  • O professor Rivail escreveu diversos livros pedagógicos, dentre os quais destacam-se:
  • 1824 – Curso prático e teórico de Aritmética, segundo o método de Pestalozzi, para uso dos professores e mães de família, com modificações – 2 tomos
  • 1828 – Plano Proposto Para a Melhoria da Instrução Pública (coroado pela Academia Real de Arras)
  • 1831 – Gramática Francesa Clássica
  • 1831 – Qual o sistema de estudo mais consentâneo com as necessidades da época?.
  • 1846 – Manual dos exames para os títulos de capacidade: soluções racionais de questões e problemas de Aritmética e de Geometria
  • 1848 – Catecismo gramatical da Língua Francesa
  • 1849 – Programa dos Cursos ordinários de Química, Física, Astronomia, Fisiologia
  • 1849 – Ditados normais dos exames da Municipalidade e da Sorbona
  • 1849 – Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas
  • Diplomas obtidos
  • Lista dos principais diplomas obtidos por Denizard Rivail durante a sua carreira de professor e diretor de colégio
  • Diploma de fundador da Sociedade de Previdência dos Diretores de Colégios e Internatos de Paris – 1829
  • Diploma da Sociedade para a Instrução Elementar – 1847. Secretário geral: H. Carnot.
  • Diploma do Instituto de Línguas, fundado em 1837. Presidente: Conde Le Peletier-Jaunay.
  • Diploma da Sociedade de Educação Nacional, constituída pelos diretores de Colégios e de Internatos da França – 1835. Presidente: Geoffroy de Saint-Hilaire.
  • Diploma da Sociedade Gramatical, fundada em Paris em 1807, por Urbain Domergue – 1829.
  • Diploma da Sociedade de Emulação e de Agricultura do Departamento do Ain – 1828 (Rivail fora designado para expor e apresentar em França o método de Pestalozzi).
  • Diploma do Instituto Histórico, fundado em 24 de Dezembro de 1833 e organizado a 6 de Abril de 1834. Presidente: Michaud, membro da academia francesa.
  • Diploma da Sociedade Francesa de Estatística Universal, fundada em Paris, em 22 de Novembro de 1820, por César Moreau.
  • Diploma da Sociedade de Incentivo à Indústria Nacional, fundada por Jomard, membro do Instituto.
  • Medalha de ouro, 1º prêmio, conferida pela Sociedade Real de Arrás, no concurso realizado em 1831, sobre educação e ensino.
  • Obras espíritas
  • As cinco obras fundamentais que versam sobre o Espiritismo, sob o pseudônimo Allan Kardec, são:
  • O Livro dos Espíritos, Princípios da Doutrina Espírita, publicado em 18 de abril de 1857;
  • O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores, em janeiro de 1861;
  • O Evangelho segundo o Espiritismo, em abril de 1864;
  • O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo, em agosto de 1865;
  • A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, em janeiro de 1868.
  • Além delas, como Kardec, publicou mais cinco obras complementares:
  • Revista Espírita (periódico de estudos psicológicos), publicada mensalmente de 1 de janeiro de 1858 a 1869;
  • O que é o Espiritismo? (resumo sob a forma de perguntas e respostas), em 1859;
  • Instrução prática sobre as manifestações espíritas (substituída pelo Livro dos Médiuns; publicada no Brasil pela editora O Pensamento)
  • O Espiritismo em sua expressão mais simples, em 1862;
  • Viagem Espírita em 1862 (1867) (publicada no Brasil pela editora O Clarim).
  • Após o seu falecimento, viria à luz:
  • Obras Póstumas, em 1890.
  • Fontes:
  • Kardec, Allan, 1804–1869. O que é o Espiritismo / por Allan Kardec. [tradução da Redação de Reformador em 1884] – 56. ed. 1. imp. – Brasília: FEB, 2013.
  • Wikipédia. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Allan_Kardec